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A sexta do ano

Viajar com amigos, conhecer pessoas, tudo foi muito legal. E nada aconteceria se não tivesse um motivo, uma desculpa para viajar. Qual seria esse motivo se não uma corrida? Se é para viajar e correr, que seja em uma prova boa, tipo o melhor circuito de meia maratona do Brasil. Foi assim que escolhi a etapa da Golden Four Asics Brasília. Já tinha ido lá em 2013 e este ano repeti a experiência. Como falei na semana passada, o objetivo era o recorde pessoal. No entanto, se não desse, na pior hipótese queria sub 1h45. Correr abaixo de 1:43:26 me motivava para ser o melhor ano de tempo médio nas meias maratonas.

Com esses pensamentos, larguei na etapa de Brasília. Claro que antes adotei a prática da Meia de Floripa. Quinze minutos de aquecimento, trote leve, com algumas acelerações. Vou tentar fazer isso antes de todas as corridas. Não me importava muito, mas realmente ajuda. Novamente, fui com o lap manual do Garmin. Apertava o botão a cada placa. Na Golden Four, a maioria das placas estava fora do lugar. Coisa de metros, mas pelos dados do Garmin pude perceber que foi bem inconstante. Não me atrapalhou porque utilizo na tela do relógio o ritmo médio da volta.

A prova tem mais descidas do que subidas, mas a subida é A subida. São 5 km subindo constantemente, do km 9 ao 14 aproximadamente. Foi essa subida que quebrou meu ritmo e o resto da prova. Já sabia e já conhecia o que iria encarar, mas a prática mostrou que era difícil mesmo. Para mim, foi. Até o km 9, basicamente só descemos. Tem uma leve subidinha no começo do km 4. Depois, do 9 ao 14 haja força na perna. Duvido que alguém consiga manter o mesmo ritmo ali. No fim do km 14 tem uma descida que ajuda um pouco para retomar a velocidade.

Acredito que todos sintam essa quebra de ritmo na subida. Talvez os mais rápidos um pouco menos. Para mim, a grande questão é o que vai sobrar de você e das suas pernas para o depois. No meu caso, creio ter perdido uns 50 segundos a mais na subida do eixo. Tentei manter o ritmo na sensação de esforço, mas não queria também fazer força demais e não ter energia para os últimos 7 km. Logo que cheguei no km 13 e no 14, vi o tempo total de prova e estava muito óbvio que o recorde não sairia e o sub 1h40 era bem improvável.

Passei o km 13 com 1:02:08 e o km 14 com 1:06:58. Ou seja, precisaria fazer pouco mais de 8 km em menos de 38 minutos e pouco mais de 7 km em menos de 33 minutos. Em condições normais, até seria possível, tipo no início da corrida. Na parte final, depois da subida do eixo, não tinha como. Não fui de todo ruim na subida, mas pensando no tempo final, ali que as chances foram embora. Tinha consciência de que no eixo minha prova poderia definhar. Até por isso, tentei acelerar mais na descida, mas já fui com pensamento em não desanimar caso o ritmo caísse e não conseguisse recuperar.

Até porque foi bem o que aconteceu. O ritmo que saía livre e solto no começo, em torno de 4:40, depois do km 14 ficou nos 4:50. A sensação de esforço era enorme. Se fosse início de prova, pareceria algo perto de 4:35. Fazia força e não saía do lugar. Sentia que não tinha mais como acelerar, morrendo, olhava o Garmin e 4:50. Que agonia. Até o km 17 ainda nutria esperanças de que poderia conseguir sub 1h40, mas precisaria aumentar esse ritmo e ainda mantê-lo até o fim. Não ia ser possível. Não na Golden Four, não nesse dia.

Quando chegaram as descidas, fiz a única coisa possível: acelerar o máximo possível para aproveitar. Adivinhem? Ritmo de 4:50, quando muito 4:45. Muito decepcionante. Realmente, não tinha mais de onde tirar. Ficou tudo na subida do eixo. Sensação de que não conseguiria tirar mais nada. No km 20, ainda aproveitei a última descida e corri a 4:44. Nem sei bem como. O fôlego e as pernas nem existiam mais. Comecei a 4:30 e acabei em 4:44. À medida que foi ficando plano, o ritmo foi caindo. Ali me animou para tentar o último quilômetro mais rápido e quem sabe fazer sub 1h41.

Só que tinha uma subidinha maldita antes de fazer a curva para seguir em direção à chegada. Naquele momento, não teve ânimo que desse jeito. Foi uma pena. Quando estava chegando nos metros finais, vi o tempo no Garmin e percebi que ia dar pouca coisa acima de 1h40. Dito e feito. No Garmin, fechei a prova com 1:41:13. O tempo líquido oficial da prova foi 1:41:09. Faltaram DEZ segundos! DEZ! Consigo pensar, no mínimo, em dez situações onde poderia ter acelerado um pouquinho a mais e garantir o sub 1h41. Oportunidade não faltou, mas a gente só sente falta depois que termina e vê o tempo.

Uma coisa legal foi um caminhão pipa logo depois do km 20. Aquela água foi um alívio. Fiquei molhado da cabeça aos pés, mas valeu muito. Neste momento, pensei como seria bom que estivesse chovendo. Ou que houvesse uma nuvem de chuva apenas sobre a minha cabeça. Estava muito quente. Em termos de números, acho que ficou no máximo em 22ºC, mas o clima é diferente de Floripa. Não sei bem certo o quanto influencia, mas em Brasília corremos entre 1.000 e 1.100 metros de altitude. Em Floripa, o normal é correr a maior parte do tempo no nível do mar.

O clima seco me fez pegar água para molhar a boca já no km 6. No entanto, se tivesse que dizer o que mais me atrapalhou na Golden Four, com certeza seria a subida do eixo. Aqueles 5 km em subida constante quebraram meu ritmo. O calor, o sol, o clima seca, até incomoda, mas o ritmo caiu mesmo na subida. Depois, o calor pode ter influenciado em não conseguir voltar no ritmo, talvez, mas acredito que se fosse tudo plano ou com menos subida, o resultado seria melhor. De repente, até um sub 1h40 poderia aparecer no tempo da prova.

Pensando em termos de recorde e sub 1h40, não foi o melhor resultado, mas, analisando em perspectiva, foi meu segundo melhor tempo de meia maratona na vida. Em Brasília, nas condições aí de cima. Em 2013, fiz 1:50:14. Melhorei o recorde da prova em mais de 9 minutos. De quebra, fiz o melhor tempo nas cinco participações em Golden Four. Poderia ter sido melhor, mas não saí da prova com aquela sensação de frustração que aconteceu em 2013, por exemplo. Saí satisfeito, sabendo que fiz o que dava para as condições do momento. Gostei de não ter desistido.

No km 14, poderia ter aceitado o ritmo que o corpo queria e diminuir o ritmo, mas fui brigando com ele. Tudo bem, você quer ficar em 4:50 e não baixar disso? Beleza. Mas não pensa que vou fazer parcial com o número 5 na frente. Você não manda em tudo. No dia, sempre tento fazer o melhor possível, torcendo para ser O dia SIM e que o melhor possível seja o melhor da vida. Não foi o da vida, mas foi o possível. Foi divertido e valeu muito. Completei a 6ª meia maratona do ano, com 4 provas sub 1h44. Poderia reclamar de várias coisas, mas seria muita mesquinharia.

O joelho não me incomodou em nada. Consegui correr em plenas condições. O ano de provas se encerra de uma maneira muito positiva. Os meses de treino foram úteis. Cheguei até novembro inteiro e conseguindo tempos que para o meu padrão são bons. Comparado com o Enio dos anos anteriores, o de 2015 foi o que melhor correu, ainda que não tenha feito recordes em todas as distâncias. O joelho bota na conta das descidas de Videira. Vamos ver como ele reage nos dias de folga que vem por aí. A Golden Four ainda deve render mais alguns textos.

4 thoughts on “A sexta do ano

  1. Muito bom, Enio! Parabéns! Não foi recorde pessoal, mas foi um tempo excelente! Espero que 2016 seja ainda melhor pra você 🙂

    Como você já viu no Connect, minha última meia do ano não foi tão feliz, mas minhas pernas não caíram nem nada, então a meta de 1:40 continua. Só não sei quando terei a oportunidade de tentar novamente, já que devo focar na Maratona do Rio durante a primeira metade de 2016. Vamos ver o que acontece… Metas para meias em 2016: sub-1:40 e sub-recorde-pessoal-do-Enio ;D

    1. Valeu! Foi o tempo que deu. Fiquei satisfeito.
      Essas meias no nordeste sempre me parecem complicadas. Mas que bom que tem como melhorar. Talvez em uma meia como treino possa sair o recorde.
      Acho engraçado essas metas aí hahaha. Se você vier correr no sul, faz sub 1h35. 😀

  2. oi Enio,

    acredito que o que você escreveu sobre ter sentido diferença na perfomance por causa da diferença de altitude tem fundamento. Meus pais moram em Goiás e quando vou visita-los sinto que preciso fazer mais esforço para alcançar os ritmos que alcanço quando corro no nível do mar. Isso é explicado pelo fato de que o ar no nível do mar possui mais oxigênio do que em altitudes mais elevadas, assim, nosso corpo consegue absorver mais oxigênio a cada respiração e, portanto, faz a troca gasosa que acontece nos pulmões ser mais eficiente. Esse artigo da CR explica bem este fato

    http://revistacontrarelogio.com.br/materia/treinamento-em-altitude-um-caminho-para-a-elite/

    1. Não sei se por ter descidas e subidas, mas não senti tanta dificuldade na questão do ritmo.
      Talvez 1.000 metros não sejam suficientes para ter efeito prático, mas também pode ter influenciado e eu não soube identificar.
      Gostei do texto. Boa dica de leitura.

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